17
Ago20
RÚBEN SALVADOR - VERDADE
gigantes ecrãs,
nébulas em êxtase
o azul do mar
o nobre azul do mar
demovendo-se no tom esmaecido da calúnia.
deitar-me às portas
de uma qualquer verdade,
como se tivesse nascido somente
para a humilhação errónea
de saber existir.
se é de noite que sonho a carne astral,
o punhado subtil da carne dilacerada,
a longa linha do horizonte,
a dizer-me que não durmo
pelo meu corpo ter começado a extinguir-se
longe de tudo.
porque ora somos jovens, ora velhos
essa natureza morta palpita
à volta do coração
a aceitar o vazio.
e tudo range,
ainda que de tudo façamos
para ser verdade o que não sentimos
e dessa liberdade
- o mais longínquo castigo -
ser o produto eterno
de tudo o que se extasia fielmente
junto da minha carne
como uma abstracção
não muito óbvia
de desaparecer.