suicidar-se sim, mas antes ter que
escrever e-mails tão compridos e difíceis?

não há mais fôlego pra explicações desdobradas
(tê-las coerentes equivaleria
a desatar em vida o embaraço?
da boa explicação viria o prêmio
merecido: uma decisão contra? e até quando
continuaria valendo a justificativa?)

(se em vida a conta deu zero, pode
depois ser refeita
em outra matemática? (por quem? e a quem
a correção beneficia?))

ensaia motivos que pareçam
convincentes pros outros, como quem
quer ir embora cedo de uma festa

(tinha doença secreta e não queria
amputação nem cirurgias, meus dentes
estavam podres por dentro, um acúmulo
irreversível de vícios, concentração muito errática
desesperança política, pau pequeno, vergonha
de pedir dinheiro emprestado, não consegui escrever livros
mais inteligentes, os vizinhos
de cima fazem barulho demais, vocês foram responsáveis
por toda a alegria que eu tive, obrigado, e desculpa) mas pareceria
sonso ou desumano morrer quites.