11
Dez18
RAQUEL GAIO - II
uma poética do desastre
os dois buracos nas mãos e
a rotatória do século se esfregando nelas
uma queloide barroca
nunca depositária de lugares seguros
a fragilidade fala pelos pulsos, esotérica
há um choro de criança em meu ombro
uma agulha que pinça a plumagem do meu animal
o envelhecimento aberto poro sobre poro
sabemos que os demônios trabalham juntos,
possuem auréolas finas e uma inevitável precisão
-uma articulação que já nasce desgastada-
eu tenho a divisa como calabouço
e a concha como morada
eu vejo com os dois olhos cerrados