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Mar21
RUI CÓIAS - MUNDO SENSORIAL
tu mesmo pouco a pouco vês que o céu empalidece, largos campos
ao entardecer se voltam num ponto inexistente, suas casas
e precipícios tremem e sem rumo suspiram nas
paixões que te recordam, se espalham onde
os ramos da consciência restam, para quando
voltares a vê-los um dia. — Não há, durante a vida, nada, agora
simultaneamente mais claro, e mais obscuro, do que Seres, e existires,
e, mesmo arruinado, és aquele que te julgaste perdido.
Ouves o crocitar das geadas, e as sondas do mar, ondeando
e se agitando com a erva e as folhas ao fundo e nas extremidades
como se compreendesses a imagem de um relâmpago, e as cidades,
de um passado que num momento se contempla outra vez,
da mesma maneira que os anos mortos, da
mesma maneira que uma grande árvore abanasse.
Porque assim, como antes que de Roma se removam algumas pedras,
ao cairem em ruína, igualmente a tua fonte não seca, e sua beleza dura.