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Nov20
SALVADOR SANTOS - LIVRO DE VISITAÇÕES
Nenhuma rua se demora tanto como as casas,
como essas casas, a abrir os olhos longos para o mar.
Na Mexilhoeira Grande, o rosto branco.
Em frente à capela o poeta estará à distância da tua voz.
Habita uma arquitetura só possível ali, naquele sul
como em nenhum outro lado poderia ser.
Os tetos tão altos que fazem supor o céu dentro deles.
A impressão das paredes distantes.
As ruas, a fé, as árvores, tudo parece mais longínquo do que nós.
Depois de ti, Nuno, a casa ainda. Apenas a poesia lhe sobreviverá.
As paredes serão outra cinza. Um vazio. O silêncio puro
Tudo tem um prazo e só tu sabes do ofício da perpetuação.
As palavras possíveis noutro milénio.
Recordo a mesa posta debaixo das buganvílias.
A sombra passageira que as aves entardecidas
derramavam sobre as casas.
Que memórias transportariam nas suas asas de cal?