02
Ago20
SUSANA ARAÚJO - [SEM TÍTULO]
Deitas-te – e seja
de olhos abertos ou fechados –
elas regressam, atracam
junto às pálpebras
como barcos
as palavras que usámos
chegam, partem
cortam as águas
como se nadar fosse
a única função do náufrago
gaivotas, golfinhos, moinhos
quixotes de bóia, focas de circo, peixes
espreitam e deslizam entre o plástico
preparam barbatanas para a batalha
o catamarã é um cruzador
eu espero pelo grito do almirante de esquadra
a outra banda ainda se avista no teu rosto
mas hoje o rio amanheceu sem margens.