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Dez20
VÍTOR GAMEIRO PAIS - COMO UM BECO ENTRE AVENIDAS
Não suspeito reticências.
Não busco saber onde se escondem as palavras não ditas
malditos sejam os que não as dizem.
Não junto fragmentos nem coleciono estilhaços.
Para quê preencher os espaços entre as pedras da calçada?
Aceito-a tal como se oferece.
Monto as pernas mecânicas e as passadas que dançam
ao ritmo desalinhado dos caixotes do lixo.
Ignoro as gravatas penduradas dos semáforos,
nem as vejo,
e nas montras das lojas que se estendem,
recuso a crueldade dos espelhos.
De passagem pelas cinzas,
algo se parte em mim quando arrefecem.
O vento segue-me como uma sombra
e as sombras sopram-me ao ouvido.