05
Mar19
WANDA MONTEIRO - UM SOL DE ARDER NA ETERNIDADE
sob as ramas da pele
- tecidas de agua-sal-sol –
o viço perdido da carne retorna ao barro úmido e disforme
o sangue talhado na jugular se engasga e reflui
na fronte - um feixe de fendas asila pretérito e feroz animal
poros entreabertos de cansaço regurgitam tardio suor
as ancas se agasalham no frágil equilíbrio dos ossos
fatigados de filtrar senda-história que lhe pesa e corrói
o grito sequer sibila e a voz fraqueja no entoar de um canto
o espaço se lhe expande ao reboo e a gravidade mais lhe pesa
sobre os olhos - véus de linho fino de branco turvo
envelhecem de distância cada paisagem
tudo que lhe preenche e contorna
desaprende de mover-se
e tudo lhe esgota ao acontecimento
o que existe por fora lhe afunda por dentro
– guardado em fibras que se retraem e secam
envoltos em alquebrados arcos
– moinhos tão escassos de vento –
a raiz muscular adoece de pulsar
escrita a idade
– a velha afia no corpo sua inexorabilidade
:: morrer para fora de si
envelhecer para dar luz à morte
essa impronunciável estação
em que as esporas do tempo
inauguram outro sol de arder na eternidade