WILSON ALVES-BEZERRA - DA PARTIDA
I
A boca de lava ainda viva murmura pelos desertos de sede. Como é engasgar em face a solo tão rude... como é escapar nu, cativo desses horizontes... como é naufragar nas areias... A doce boca de larva meus ossos beijou; a terra quente por baixo se alarga. Uma urna acolhedora, madeira de minha sopa. A voz emana calores, a grande boca me sorve da carne, sem mascar. Tudo é beiço e corpo liquefeito.
II
Há seres na fruteira que não devem ser comidos, dizia a banana à drosophila menina. Eu, todo frango em seu quintal de frutas, não temo. A cena que poemo, alheia, revoada de seios de cadelas. O corpo da prima chegar não num caixão, mas vivo. O corpo da prima cheio de vontades e dizeres. O corpo da prima que morreu afogada.
III
O castelo de Thalia tem uma boca de cartas. Uma Thalia de sons medievais no submerso castelo. Seu toque, mais marchas que um Simca. Suave retorno ao extremo valete. Marciais os tambores, seus amores rufando e rangendo as artérias.
IV
A pobre prima se enterra sob as areias geométricas do castelo que vem da boca de Thalia. Quem quer afinal uma morta prima, quando tem as línguas da primeira palavra... Quem quer a prima malfadada quando ausculta que lhe fala o coração silenciado...
V
João há de dançar com a prima, provar suas ampolas de placebo e ocupar seu cargo na gestão municipal. Há lugares para os joões promissores nas sucessões interiorianas. O contrato nunca vai se acabar. Há sempre lugares nos bares da administração. Tocantes são as histórias de primas. Mas Thalia vem e devora outra vez.
VI
Vamos limpar esta mesa para caiar os seus talentos. E vamos bronzear os mortos e mortificar os maratonistas. O avesso também é par mínimo. Então vamos comer alpiste no chão, empalidecer os maratonistas e cozinhar os seus brônquios com frutas.
VII
Thalia nas noites remorde a coxinha da asa. O frango sem cabeça à espera do bote. A grande lava da boca de Thalia, deixa intacto apenas o osso do peito.