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Out19
YURI PIRES - SUPERNOVA
Sutil e intrincado, desce o inverno
sobre o sul de tanto sol e sombra;
maior, muito mais, que o astro-rei,
finda-se de vez a suave criatura.
Dissipam-se, assim, ponteiros, sons,
astrolábios, cansonhos, melodias;
bandeiras a meio mastro, sombrias,
hesita o rouxinol, canta no breu,
assobiam gralhas, grasnam corvos,
crocitam abutres: o amor morreu,
arrastando consigo quem o cria
força perpétua, propulsor de estrelas.
E, agora, afinal, para ouvi-las,
não importa a galáxia (enigmagem,
espessura cerrada e mineral),
assomar, leve e precária imagem,
não importam as frias gelosias,
nem os biombos sutis e sibilinos;
surdo e tresloucado, eu vibro,
num ciciar de sussurros sinuosos,
trepidação tênue de derrotado
que gane como cão encardido
transido de frio, sob céu estrelado.
Sou soturno, sinistro, inadequado.
No vasto universo, luciluz, todavia,
uma supernova de silêncio e esplendor,
a morte como princípio da vida.
Embora tudo seja Nada, abismo e dor.